A vegetação espontânea da região foi muito alterada pela intervenção humana, mesmo que extensas áreas não fossem cultivadas. É muito difícil, senão impossível, ter um vislumbre da ocupação original destas montanhas, mesmo remontando ao período anterior à presença do eucalipto. É certo que as grandes extensões das montanhas estavam então revestidas com o matagal atlântico, uma formação lenhosa e densa de arbustos baixos dominada por urzes, carqueja e tojos. No entanto, essa ideia geral não contempla os nichos, locais específicos com características particulares. É também certo que as terras cultivadas ocupavam as terras mais férteis e menos declivosas, desde os vales às cumeadas dos montes.

Nas formações arbóreas potenciais da região deveriam dominar os carvalhos de folha caduca (Quercus robur), frequentemente consociados com os sobreiros (Quercus suber), mas nenhuma destas árvores constituía matas de extensão significativa no período final da economia de subsistência. Se alguma vez e em que extensão estas montanhas foram cobertas por florestas de Quercus é uma questão de difícil resposta, sendo certo que, no presente, dificilmente seria possível recolonizá-las com os Quercus, dada a fraca aptidão da generalidade dos solos. No entanto, apesar de não constituírem matas, tanto carvalhos como sobreiros por certo que existiam e eram dominantes entre as espécies de árvores autóctones, mas ocorreriam de forma dispersa na paisagem, ainda que por vezes com exemplares de grande porte.



Os fenómenos erosivos associados à desflorestação das montanhas, que ocorreram desde tempos imemoriais, são bem conhecidos, e, nesta região, estarão na origem dos solos férteis do Baixo Vouga, que ocuparam uma baía onde há vários séculos desaguava o Rio Vouga. Deste modo, as condições que permitiam a sustentação dos bosques antigos degradaram-se e talvez só muitos séculos de recuperação as permitam recuperar.
Para além dos bosques de quercíneas, praticamente inexistentes na região, podem-se identificar habitats com características e espécies particulares: já citei o matagal atlântico, que terá largamente substituído os antigos bosques, mas encontram-se também as galerias ripícolas (habitat ripícola), presentemente também muito danificadas e os afloramentos rochosos (habitat rupícola). Foi talvez o habitat rupícola o que menos foi danificado pela intervenção humana. Em Belazaima, os afloramentos rochosos do Cabeço Santo são uma mostra disso: aí pode-se observar uma diversidade de plantas sem paralelo à escala local.

Em estreita conexão com o habitat rupícola encontra-se uma formação com alguns pequenos núcleos no Cabeço Santo, dominados pelo medronheiro, com a presença de murta (Myrtus commnis), lentisco (Phillyrea angustifolia), urze-das-vassouras (Erica scoparia), um ou outro aderno (Phillyrea latifolia) e a trepadeira salsaparrilha-bastarda (Smilax aspera). Esta formação é provavelmente herdeira dos tempos em que a colheita do medronho era valorizada, levando à preservação das manchas de vegetação dominadas pelo medronheiro. É certo que foram bastante diminuídas pela cultura do eucalipto, mas permaneceram nas áreas de solo mais escasso, daí a sua conexão com as zonas rupícolas.

