A área sob gestão da Quinta das Tílias é vasta, para os padrões locais: c. de 92 ha em 2024. Inclui alguns arrendamentos, o mais importante dos quais à Junta da União de Freguesias (c. de 10 ha). A principal razão para esta dimensão está relacionada com o esforço colocado no restauro ecológico das áreas florestais, e estas, por sua vez, foram adquiridas ou arrendadas de forma estratégica de maneira a criarem um espaço o mais contínuo possível que incluísse as margens do ribeiro e dos seus principais afluentes.
Algumas parcelas florestais foram seleccionadas para a implantação de medronhal para fruto, deixando dessa forma de serem florestais (5,5 ha). Outras parcelas ainda têm eucaliptos (12 ha). A maior parte da área das parcelas florestais está em processo de renaturalização (60 ha). Finalmente há as parcelas de vocação agrícola, quase todas com interligação com áreas florestais (6 ha).
Eis uma visão geral das áreas:
Pedreira, Ponte Nova, Aveleira e Valinho Turdo (5,2 ha):

São as áreas “históricas” onde foram iniciados os primeiros trabalhos de restauro ecológico entre 1990 (Pedreira) e 1992 (Ponte Nova). Não está ainda tudo feito, mas o esforço aí colocado é agora mínimo. Na zona da Aveleira há duas áreas onde se realizaram trabalhos em parcelas de outros titulares, com o seu acordo.
No Valinho Turdo, onde os trabalhos se iniciaram em 1993, ao contrário das anteriores, a inclusão de novas parcelas prolongou-se bastante mais no tempo, tendo ainda em 2024 sido incluída uma nova. Existe aqui uma parcela de medronhal para fruto, mas o restante é bosque de conservação. Em 2023 sofreu o corte de uma larga faixa pela mão da E-Redes.
Pedaço/Lavandeira/Pedregal/Lameirão (3,5 ha):

O Pedaço e a Lavandeira são inclusões relativamente recentes (a partir de 2018), acabando por criar uma unidade com a terra do Pedregal, na Quinta desde o seu início. As terras de várzea do Pedaço e da Lavandeira têm pomar de macieiras, plantado em 2022 e 2023, mas a parte mais interessante aqui são as antigas testadas das terras, que os sucessivos incêndios foram degradando, promovendo a expansão dos eucaliptos. Por isso o principal trabalho dos últimos anos foi a remoção dos eucaliptos e a recuperação da vegetação autóctone, trabalho dificultado pelo elevado declive da encosta, mas compensado pela presença abundante de plantas e o bom estado do solo. No alto do Cabeço da Lavandeira foi implantada uma pequena área de medronhal de sequeiro. No Lameirão, junto ao Pedregal, existe um grande carvalho.
Várzeas, Tojeiral (4,5 ha) e Vale da Várzea (4,1 ha)


As Várzeas (Várzea-de-Baixo, Várzea-de-Cima e Várzea-de-Além) são o “coração” da Quinta e as áreas agrícolas mais próximas da casa. Eram áreas “de várzea”, daí o seu nome (ou seja, parcelas ribeirinhas praticamente planas, com regadio). Era aí que no passado se cultivava o milho, o cereal base das comunidades de subsistência, por isso eram particularmente valorizadas. Mas, também por isso, eram áreas muito divididas em pequenas parcelas, que só muito pontualmente beneficiaram de algum emparcelamento. Por isso, emparcelar era essencial, uma operação que depende de terceiros (os titulares), e por isso de resultados sempre incertos. Depois de 10 anos de esforços e muita paciência esse processo culminou com o emparcelamento de 32 artigos, permitindo criar uma área contínua de 3 ha em ambas as margens do ribeiro de Belazaima.
Mas o Tojeiral, no entorno da casa, aglomera também 12 artigos e pelo meio ainda havia as hortas da Várzea, com muitos artigos minúsculos (ainda nem todos incuídos).
Nas Várzeas foram plantados os primeiros pomares em 2019.
As margens do ribeiro estão aqui bem guarnecidas de árvores, constituindo uma bela galeria ripícola constituída por carvalhos, castanheiros e salgueiros. No entanto estas margens, como ao longo de todas as terras de várzea, foram muradas ao longo dos séculos, e para os muros as árvores são sempre um inconveniente… Talvez estas árvores não sejam, afinal, assim tão antigas, mas foram-se implantando, certamente, pelo menos ao longo da primeira metade do sec. XX.
A Várzea de Além tinha testadas pequenas (comparadas por exemplo com as do Pedaço ou da Lavandeira). Por isso, a única maneira de as alargar era incluir os terrenos florestais da encosta.
A encosta a sul das várzeas é recortada por dois pequenos vales, e é globalmente conhecida como Vale da Várzea. O vale a nascente estava inserido num terreno de família e começou a ser reconvertido logo em 2006, depois do grande incêndio. Mas ardeu em 2017. Acima do caminho florestal havia uma área de pinhal, onde poucos pinheiros sobreviveram ao incêndio. Mas lentamente e com pouca intervenção, o pinhal tem-se regenerado espontaneamente, a partir do banco de sementes. O terreno que inclui o vale a poente só pôde ser incluído depois de 2017, quando já tinha um projecto para replantação com eucaliptos… Pelo meio ficam dois artigos, ainda não incluídos, que têm eucaliptos.
Fonte do Porco (5,3 ha)

3 dos 5 ha da Fonte do Porco faziam parte de uma grande (para os padrões locais) propriedade dos meus avós paternos que foi a última a ser dividida entre os seus 5 filhos. Quando o foi, a seguir ao incêndio de 2005, já praticamente não passou pelo meu pai, e comecei a trabalhar lá logo em 2006. É atravessada pelo Vale da Fonte do Porco, no entorno do qual havia terras agrícolas, mas que foram abandonadas cedo. Apesar de terem sido plantadas com eucaliptos, as terras férteis e frescas do vale logo foram ocupadas por muitos carvalhos (o meu pai dizia que havia uns poucos mas muito antigos grandes carvalhos nas encostas adjacentes, que terão sido cortados quando os eucaliptos foram plantados). Apenas uma dessas árvores sobreviveu com parte aérea ao incêndio de 2005, e mesmo assim levou anos a recuperar. Mas muitas outras rebentaram. Ainda assim, muitas foram ainda plantadas entre 2006 e 2008. O incêndio de 2017 provocou aqui graves danos, tendo agravado a situação de uma encosta onde as mimosas ainda estavam implantadas.
Os 2 ha restantes só foram incluídos em 2011, depois de uma complicada negociação. Por isso ainda tiveram eucaliptos até 2017, excepto em dois pequenos afluentes do Vale da Fonte do Porco.
Na Fonte do Porco foram implantadas 4 áreas de medronhal com regadio.
A Fonte do Porco tem desde vales férteis e frescos a encostas pobres e expostas. Ainda muito há lá a fazer.
Vale da Estrela e Benfeita (7,9 ha)

Nenhuma destas parcelas fazia parte da Quinta em 2016. As terras de várzea da Benfeita foram mais um caso bem-sucedido de emparcelamento que precisou de 8 anos para ser concluído. Entre 2020 e 2023 foram lá plantados pomares de macieiras.
As testadas das terras da Benfeita eram as mais bem conservadas de todas as existentes ao longo das terras ribeirinhas de Belazaima. Ainda assim, algumas tinham eucaliptos. Para o seu, comparativamente, bom estado contribuiu a existência, entre as testadas e o caminho florestal, de uma faixa de um terreno da Junta de Freguesia onde não foram plantados eucaliptos. Esse terreno acabaria por ser arrendado à Junta pela Quinta e é hoje parte essencial daquela área. Duas adições fundamentais foram feitas em 2018 (adições que só foram possíveis devido ao incêndio de 2017…) a sul do Vale da Estrela, em cuja cabeceira seria instalada a principal mancha de medronhal de regadio.
O Vale da Estrela é um pequeno vale mas um grande desafio…
Entre os muitos carvalhos da Benfeita há um particularmente majestoso…
Lousadelo, Cabeço da Gorda e Vale de Junqueiro (entorno da represa)
No local onde se encontra actualmente a represa de rega do ribeiro de Belazaima existia um pequeno açude, reconstruído anualmente, de onde partia a principal levada de rega das terras de Belazaima, o Rego de Cima. Na década de 80, beneficiando financeiramente dos primeiros recursos europeus após adesão à então CEE, e, localmente, de uma orografia favorável (existia ali uma “garganta”), foi construída uma pequena barragem cuja inauguração teve direito a presença de um ministro! Esta represa permitiu uma maior segurança em termos de disponibilidade de água de rega, ainda que à custa da sua qualidade,… e da inundação da garganta. Ainda assim, e apesar de se tratar de uma estrutura artificial, o entorno da represa é um local merecedor de especial atenção no que toca ao restauro ecológico da sua vizinhança.

Ao longo dos anos, foi possível incluir na Quinta quase todas as parcelas das margens da represa, tendo estas, principalmente, objectivos de conservação. Ainda assim, foram implantadas nesta área duas manchas de medronhal: no Cabeço da Gorda e no Lousadelo.
Entorno do Feridouro

O Feridouro é uma pequena aldeia que, em 2005, aquando do grande incêndio, já só tinha dois moradores históricos. Apesar de ser uma aldeia encaixada no sopé do Cabeço Santo, com escassas áreas com pouco declive, mesmo assim, com o abandono, muitas das antigas terras agrícolas mais valorizadas foram “eucaliptadas”. A inclusão na Quinta de muitas delas decorreu do esforço realizado para a criação de um “corredor ribeirinho” ao longo do ribeiro, de onde a exploração de eucalipto fosse progressivamente descontinuada. No entanto, como não é possível fazer isso de um momento para o outro, as áreas da encosta a sul do ribeiro ainda têm as antigas plantações.
Entretanto, ajudado pela dinâmica do Projecto Cabeço Santo, o Feridouro ganhou novos moradores. Por isso, algumas terras recuperadas na zona do Cortinhal são agora usufruídas pelo novo colectivo do Eco-Vale Feridouro.
Vale de Barrocas, Chão do Linho e Pé torto

Esta preciosa área, criada essencialmente com fins de conservação, abrange ainda algumas pequenas antigas parcelas agrícolas do Feridouro (no Chão do Linho) e sobretudo as encostas a sul do ribeiro, recortadas por vários vales, área conhecida globalmente como Vale de Barrocas. Não apenas o vale principal mas também os dois a poente são muito ricos em água, em todos eles existindo nascentes com aproveitamento. Os declives são geralmente elevados. Iniciou-se aqui uma intervenção de reconversão do eucaliptal, sem envolvimento de maquinaria, em 2017: a rebentação de eucalipto foi cortada sucessivamente (por voluntários do Projecto Cabeço Santo) e foram plantadas árvores. Mas, logo na Primavera seguinte, em 28 de Abril, foi aqui ateado um incêndio, o mesmo que viria a afectar também áreas da Quinta na vizinhança de Belazaima. Tudo teve de recomeçar no Inverno seguinte, pois a quase totalidade das árvores plantadas se perdeu. No entanto, esta é uma área difícil: as árvores, plantadas à mão em encostas de fertilidade reduzida, crescem devagar, e o matagal acaba por ser a formação dominante por muitos anos.
A parcela do Pé torto, que inclui c. de 1 km de curso do ribeiro na margem sul, para já mantém-se com eucaliptos, e seria muito bom se, pelo menos, a recuperação das encostas adjacentes ao ribeiro, muito invadidas com mimosas, fosse conseguida. A outra margem, na Mata da Altri Florestal, não se encontra muito melhor, apesar de várias tentativas já terem sido feitas para a fazer evoluir, quer, inicialmente, pelo Projecto Cabeço Santo, quer mais tarde pela própria empresa. Mas, os desafios que as aguerridas invasoras colocam, sobretudo em locais de orografia difícil, são tremendos.
Uma área de declive comparativamente menor foi mobilizada com maquinaria pesada (ripada) e plantada numa operação relâmpago em Março de 2021. Em 2019 já tinha sido preparada e plantada uma área de medronhal, a mais distante e “selvagem” das áreas de medronhal plantadas pela Quinta!
Na área do encontro com o ribeiro do vale mais a poente existe uma pequena mancha de carvalhal mais maduro que lá se implantou após o abandono de pequenas parcelas agrícolas que aí existiam. Foi uma ilha de resistência ao incêndio de 2005: aí permaneceu uma mancha verde quando tudo à volta estava negro. Sofreu mais, contudo, quando foi atravessada pelo incêndio de 2017.
Costa da Malhada e Vale de São Francisco

A cabeceira do Vale de São Francisco foi o local de partida para a criação do Projecto Cabeço Santo. Tinha o atractivo de ter áreas de vegetação autóctone pouco afectadas pela exploração florestal (áreas de solo marginal, frequentemente afloramentos rochosos), uma raridade no espaço da freguesia e mesmo depois, da super-freguesia (União de Freguesias). Por isso, um dos primeiros actos do projecto, na altura enquadrado pela Associação Quercus, foi adquirir um terreno de 7ha nas Bicas de Aguadalte, uma propriedade que tinha implantado apenas c. de 1 ha de eucaliptal. Por isso um dos primeiros trabalhos do projecto foi retirar os eucaliptos desta área.
Mais tarde, já em 2010, o terreno vizinho da Costa da Malhada, com eucaliptal, foi posto à venda pelo seu proprietário. Foi a oportunidade para o adquirir e abrir a porta à possibilidade de uma operação de reconversão. Esta veio, ainda que parcialmente, a acontecer a partir de 2021, com uma plantação baseada em sobreiros sob solo preparado por ripagem. De fora ficou apenas c. de 1 ha onde, devido ao declive, as operações mecanizadas não puderam chegar.
Outro passo foi a aquisição de um dos terrenos contíguos ao Vale de São Francisco, a montante do Feridouro, em 2015. Parcela de declives elevados, mas onde, numa pequena secção, tinham sido rasgados terraços para replantação com eucaliptos em 2006, fortemente invadida com mimosas, esta parcela é todo um desafio de restauro ecológico. Em 2023 os voluntários do IPDJ enquadrados pela Associação Cabeço Santo fizeram aí um bom trabalho de descasque de mimosas. Mas muito continua a haver lá para fazer.
