A Quinta das Tílias é uma entidade que, pode-se afirmar, começou a “germinar” nos anos longínquos de 1990, mas que, como muitas sementes florestais, teve um longo período de “dormência” antes de se desenvolver de forma visível.
Permitam-me falar na primeira pessoa, pois o desenvolvimento da quinta é indissociável e paralelo ao meu percurso por esta existência terrestre, e sem este percurso ela não existiria.
Na minha juventude, não parecia evidente que das minhas mãos fosse surgir uma quinta, pois que os meus interesses de adolescente me levaram pelos caminhos da engenharia (electrónica), cujas potencialidades me fascinavam, mesmo ainda antes de existir internet, pc’s e smartphones. Contudo, a minha infância teve mais a ver com o campo do que com os artefactos electrónicos. Os meus avós, quer maternos quer paternos, fizeram parte das últimas gerações de agricultores de subsistência que habitaram estas paragens. Eu vivi em casa dos avós maternos até aos 8 anos e ainda tive um fugaz vislumbre desse modo de vida. Com o falecimento algo prematuro do meu avô materno, ainda eu não tinha três anos, a dinâmica desse modo de vida teve uma quebra súbita, já que os meus pais já tinham enveredado por outros caminhos: ela, professora, ele, empresário. Por isso, os meus anos de infância (até à idade escolar) foram passados mais com a minha avó, do que com os meus pais e ela continuou, ainda que de forma diminuída, a realizar nas terras muitos dos trabalhos que faziam parte desse modo de vida tradicional. Deste modo, o meu “jardim de infância” foi nessas terras, ajudando a minha avó, ou pelo menos acompanhando-a, mas constou mais tarde que sachava milho muito bem, pelo que a palavra “ajudava” não será descabida.
Com a idade escolar e mais tarde a saída de casa da minha avó (os meus pais tinham-se mudado para uma nova casa, embora a apenas 600 metros de distância), a minha ligação à terra desceu às profundezas da psique, de onde não emergiu pelo menos até à idade adulta.
A época do meu nascimento praticamente coincidiu com um momento de grande convulsão do modo de vida local, convulsão essa com reflexos determinantes na própria paisagem. Quando os meus pais nasceram (entre 1936 e 1938) as montanhas que circundam a minha aldeia não tinham um único eucalipto. As terras agrícolas, ocupavam, de forma dispersa, a paisagem montanhosa, mas a ocupação dominante das extensas áreas não agrícolas era o matagal, consequência provável de um ancestral processo de destruição da vegetação original, cujo aspecto e composição se perdeu na noite dos tempos. Os rebanhos eram garantia de manutenção dessa paisagem, mas, nas primeiras décadas do sec. XX, já não tinham muita expressão e, aparte a recolecção do matagal para servir de cama aos animais domésticos, essa formação vegetal não parecia servir para mais nada.
Por outro lado, a “modernidade”, que até ao fim da segunda guerra mundial parecia não ter influenciado muito o modo de vida local, atravessou esta zona como uma onda gigante, progredindo do litoral para o interior. Uma estrada asfaltada foi construída no final da década de 40 (a minha mãe ainda se lembra do primeiro automóvel que aqui chegou), a electricidade chegou em 1963, os primeiros rádios, depois televisões, tudo chegou entre a década de 50 e 60. Antes, os ecos do exterior apenas chegavam por meio de um jornal, lido para “o povo” por algum dos poucos aldeões que sabia ler e escrever. E chegou também o eucalipto, essa árvore “milagre” que iria transformar extensas áreas das montanhas, “inúteis” e praticamente sem valor, nas mais valorizadas das terras.
As áreas não agrícolas, ao contrário destas, não foram propriedade privada até ao princípio do sec. XX. A sua privatização e distribuição pelos locais foi decidida pelo Estado, mas, nesse momento, parece que eles não apreciaram muito a ideia porque por essas áreas tinham de pagar uma contribuição. Não seriam quantias significativas, mas há que ter em conta que o dinheiro tinha um papel secundário nas economias locais, onde muitas transacções, quer de bens quer de serviços, eram directas. A chegada do eucalipto inverteu essa apreciação e de facto, ele teve um papel relevante num processo maior de transição de comunidades inteiras de um modo de vida tradicional para um modo de vida “moderno”. Terá limitado a dimensão da emigração e contribuiu para a autonomia e a sensação de segurança num movimento sem retorno rumo ao desconhecido. Os primeiros eucaliptos ajudaram a comprar os primeiros automóveis e outros objectos “modernos”, a construir casas “modernas” e até a montar empresas.
Os primeiros eucaliptos foram plantados à cova, utilizando o matagal queimado como fertilizante. Ainda há alguns, embora cada vez menos, desses eucaliptais “originais”, de cuja plantação algumas pessoas ainda vivas se lembram. O trabalho de colheita era muito duro porque a madeira tinha que ser manuseada e carregada à mão, numa altura em que a rede de caminhos, onde podia ir um camião, era muito menos densa do que é hoje e as máquinas se limitavam à motosserra. Essa madeira era depois levada para a fábrica de celulose do Caima, a primeira fábrica do género construída na região, cujas ruínas ainda existem e que é também recordada como um dos primeiros casos graves de poluição industrial de um rio, esse mesmo rio Caima.
O eucalipto encontrou nesta região as condições quase ideais para se impor: extensas áreas de montanha sem uso, solos geralmente adequados para o crescimento da árvore, ainda que de fertilidade comparativamente (aos solos agrícolas) reduzida e de características variáveis de local para local, um clima propício, sem grandes gelos nem secas prolongadas nem temperaturas extremas, uma economia emergente que o absorvia avidamente, e, noutra dimensão, uma comunidade local progressivamente, tanto material como psicologicamente, afastada das dinâmicas que tinham moldado o modo de vida tradicional.
O eucaliptal, ao contrário da parcela agrícola tradicional, era uma cultura com a qual se tinha uma relação muito mais distante e desligada, com estados emocionais que oscilavam entre o receio de um incêndio florestal e o atractivo de um corte financeiramente generoso. A “beleza” de um eucaliptal era, como nunca verdadeiramente deixou de ser, uma medida da sua rentabilidade futura. Qualquer afecto que pudesse ter existido entre o agricultor de subsistência e o objecto do seu trabalho se perdeu com a cultura do eucalipto. O quanto se perdeu paralelamente ou como consequência disso na capacidade dos seres humanos das gerações que se foram entretanto sucedendo para apreciar a sua paisagem para além do seu valor monetário, e para apreciar muitas outras dimensões da sua existência, talvez ainda um dia seja motivo de reflexão.
Eu, não obstante frequentasse o grupo de teatro local, entusiasmadamente dirigido pelo meu pai, e tocasse no coro da Igreja, religiosamente frequentada pela minha mãe, e não obstante tivesse tido uma infância onde os amigos “de rua” (ainda) eram escola, era um tipo tímido e tendencialmente solitário, que gostava de “descobrir” sozinho a paisagem circundante à aldeia, e gostava particularmente de passear por uma zona entre o Lagar Velho e Alvarim, onde, entre as bucólicas ruínas do antigo lagar de azeite e o pequeno lugar da antiga freguesia de Belazaima, ao longo do ribeiro, ainda se podiam encontrar recantos interessantes, pequenos bosques sombrios e misteriosos, porções de encosta que pareciam ter ficado esquecidas, antigas parcelas agrícolas espontaneamente “renaturalizadas” e as árvores, os carvalhos, que admirava e me deslumbravam sem que ninguém me tivesse ensinado a admirar e a deslumbrar. Creio que foi aí que “descobri” a dramática diferença entre um bosque autóctone e o eucaliptal, essa extensiva ocupação da paisagem que ainda não existia quando o meu pai nasceu e que, quando eu nasci, 28 anos depois, já tinha absorvido a paisagem quase por completo.
Mas essa pacata e de alguma forma passiva contemplação seria inexoravelmente desafiada, pois o momento continuava a ser de transição. Uma batida às raposas suscitou este escrito. Um dia, um incêndio atravessou a área, e, como muitas vezes acontece, as acções que motivou foram mais destrutivas que o próprio incêndio. Carvalhos, alguns antigos, foram cortados, parcelas foram replantadas com eucaliptos. Algum tempo depois as próprias ruínas do lagar velho foram aterradas com materiais provenientes de um desaterro. Ao longo dos anos seguintes houve intervenções de “limpeza” e plantação com eucaliptos que deixaram a área irreconhecível. A beleza e singularidade daquela zona ficaram apenas na minha memória.
Urgia fazer algo, mas, que podia eu fazer, que na minha adolescência me tinha apaixonado pelos circuitos electrónicos e pela “magia” da electricidade, e agora, com vinte e poucos anos, quase engenheiro, pouco sabia das coisas vivas?
Em 1986 aderi à Quercus, associação então recentemente formada e, durante alguns anos, fui sócio activo e comprometido, particularmente no seu Núcleo de Aveiro. Mas claro que isso não contribuía muito para resolver ou mesmo minorar o curso inexorável de degradação da “minha” paisagem. Só me permitia manter activo.
Foi só em 1990, creio que no Inverno, que o meu pai, ciente das minhas preocupações relativamente à floresta, tomou a iniciativa de me encarregar de uma pequena parcela que tinha na zona da Pedreira e onde tinha cortado recentemente uns eucaliptos. Era uma parcela muito pequena, uns 1000 metros quadrados, mas foi aí que pus mãos à obra. Ainda me lembro do local desse terreno onde realizei o primeiro trabalho, embora por certo não tivesse noção de que esse singelo acto numa parcela insignificante rodeada de eucaliptos por quase todos os lados era o início de uma mudança radical no curso da minha vida. Mas não seria uma mudança súbita. Também nesse ano iniciava um programa de estudos de doutoramento na minha área de formação académica que durante sete anos iria consumir demasiado das minhas energias. Quando terminou, em 1997, eu já não era a mesma pessoa. Ainda consegui arrancar uma aprovação com distinção e louvor, mas sabia bem que não poderia continuar por aí. O Prefácio da minha tese era um indício.
Mas não havia ainda condições para “mudar de vida”. A “Quinta”, como eu lhe chamava, fora crescendo ao longo desses sete anos. Na Pedreira, o primeiro local, consegui, por troca ou compra, adquirir mais seis parcelas vizinhas. Em 1992 comecei a adquirir parcelas um pouco a jusante, na Ponte Nova, e em 1993 iniciei trabalhos no Valinho Turdo, mais para cima na encosta. Mas a adição de novas parcelas iria continuar durante anos, sobretudo no Valinho Turdo, onde o eucaliptal era mais valorizado. Em todos estes locais o trabalho era exclusivamente de recuperação do bosque autóctone e não tinha nada de agrícola. Ainda assim eu imaginava que só ali me poderia instalar algum dia no futuro, ainda que tivesse de “deseucaliptar” para agricultar.
Entre 1997 e 2005, algumas coisas significativas aconteceram, embora os trabalhos não se tenham estendido muito para além dos três núcleos iniciais referidos acima: trabalhei a tempo parcial (precisava de tempo para as “outras coisas”, não era?) no Departamento de Física da Universidade de Aveiro como Prof. Auxiliar Convidado, casei-me em 1999, e, em 2003 decidimos, eu e a minha esposa, finalmente, lançar raízes mais permanentes em Belazaima, com a construção de uma casa e de uma (verdadeira) Quinta. Naturalmente, não pensava que fosse possível outro sítio se não no Valinho Turdo: já tinha aí 10 anos de trabalho na floresta, estava perto de uma zona urbanizável… Nem parecia (querer) ver que tinha também outros inconvenientes: a proximidade de um grande complexo de aviários de criação super-intensiva, duas fábricas, aptidão agrícola reduzida, salvo em pequenas áreas e negociações difíceis com um proprietário chave, durante as quais uma curiosa série de “sincronicidades” trouxe os devidos sinais. Finalmente a Câmara Municipal deu o golpe final nessas pretensões: não queria construção naquela zona, apesar de ser urbanizável (mais tarde, numa revisão do PDM, deixaria mesmo de ser).
Foi assim que “aterrámos” no Tojeiral, a 100 metros da casa materna onde vivi até aos 8 anos. Só que aí só podíamos contar com “dois ou três palmos de terra”: era uma zona que, pela boa exposição, contava com umas quantas eiras, às vezes com as suas casas em pedra, outras apenas com o obrigatório espigueiro, ou canastro, como aqui se chamava. Por isso era também aí que se encontrava a eira da família materna, numa parcela onde “lançámos a âncora”. Mas essa era uma parcela pequena, como aliás todas as outras em redor, e criar uma quinta aí era um desafio no que tocava ao esforço de emparcelamento, que levaria anos a dar frutos. De facto, uma tarefa quase sem fim, que 20 anos depois de se ter iniciado, em 2004, ainda não se encontra concluída.
2005 foi um ano marcante, a todos os títulos: deixei a UA e iniciei uma colaboração na empresa (familiar) Solzaima, em Belazaima, trouxe para o Tojeiral os primeiros materiais para a construção da casa (uma grande carga de fardos de palha de arroz para fazer adobes!), acolhemos a nossa filha Ana na família e, em Setembro, ocorreu o grande incêndio que ficou na memória local como um dos eventos mais impactantes na paisagem local de que há memória. Como consequências deste incêndio, duas coisas importantes aconteceram: 1) dei os primeiros passos para a criação de um projecto de restauro ecológico focado no cabeço que fica a nascente de Belazaima: o Cabeço Santo; 2) os meus pais e uma tia decidiram distribuir pelos filhos/sobrinhos as propriedades rústicas que ainda detinham, embora algumas já me tivessem sido atribuídas ao longo dos anos anteriores para me permitir fazer as permutas necessárias ao emparcelamento das áreas onde trabalhava desde 1990. Como boa parte destas parcelas tinham ardido no incêndio de 2005, logo comecei a trabalhar em algumas delas, com particular relevância em duas relativamente próximas e com uma perspectiva de continuidade com o Tojeiral: o Vale da Várzea (nascente) e a Fonte do Porco, cada uma com c. de 3 ha. Estes 6 ha aumentavam de repente para mais do dobro a área onde tinha trabalhado nos 15 anos anteriores, mas ainda maior desafio haveria de ser o primeiro acontecimento: o Projecto Cabeço Santo. Por isso os 3 anos seguintes foram muito exigentes: trabalho na Solzaima, início da construção da casa, Projecto Cabeço Santo, trabalhos nas novas áreas florestais, família, esforços de emparcelamento entre o Tojeiral e as Várzeas, para criar condições que permitissem fazer aí, finalmente,… uma Quinta!
Em 2008, novo acontecimento determinante: aparece uma proposta de compra da Solzaima. O meu pai já tinha dado 1/3 da sua quota (maioritária) a cada filho, e tinha, por certo, alguma expectativa de que eu o pudesse um dia substituir na administração da empresa, que nos últimos anos tinha crescido, tornando-se próspera e atractiva. Mas não era o meu “desígnio vital”… Com uma parte importante do capital já com sócios que não estavam na empresa, a opção de vender impôs-se, não obstante tivesse sido uma decisão difícil para o meu pai: tinha sido o grande projecto da sua vida, aquele que, finalmente, e depois de outros que tiveram o seu fim prematuro, tinha sido muito bem sucedido.
A venda e consequente saída da Solzaima tiveram duas consequências importantes: permitiu-me acesso a recursos financeiros invulgares e aumentou a minha disponibilidade de tempo. Tinha mais capacidade para investir na criação da Quinta, na compra de terrenos e no espaço de apoio, anexo à casa. Pensei que tinha chegado a hora de me dedicar inteiramente ao campo! Mas não tinha! Por várias razões: a casa e o espaço de apoio ainda estavam longe de estar prontos, os emparcelamentos das Várzeas ainda estavam em curso e o meu pai decidiu criar uma nova empresa para que os filhos pudessem ter onde trabalhar o resto da vida! Era a Permasolaris, uma empresa de painéis solares térmicos. Sempre com o pensamento na Quinta, na floresta e no Cabeço Santo, dei o meu contributo a tempo parcial a essa empresa durante 7 anos apenas para, depois de muitas peripécias e obstáculos, se concluir o óbvio: não era por ali! A empresa foi finalmente extinta em 2017 mas em 2016, mais propriamente em Maio, eu já tinha dado o passo fundamental que tinha acarinhado durante 26 anos: criei oficialmente uma empresa, a Quinta das Tílias (oficialmente Paulo Henrique Domingues Unip.). Já tinha 52 anos! Entre 2008 e 2016 as coisas tinham amadurecido e as condições tinham melhorado: os emparcelamentos no Tojeiral e nas Várzeas já tinham permitido criar um espaço praticamente contínuo de c. de 3 ha de terrenos agrícolas; muitas parcelas florestais tinham sido adquiridas, sobretudo ao longo do ribeiro de Belazaima, onde, desde 2009, o Projecto Cabeço Santo começava a intervir; em 2012, e depois de 6 anos de umas intermináveis obras, finalmente nos instalámos na casa de Belazaima; os trabalhos de reconversão florestal nas novas áreas do Vale da Várzea e da Fonte do Porco tinham avançado, embora com consideráveis desafios. 2016 foi o ano em que, finalmente, me passei a dedicar inteiramente à Quinta e às coisas do campo! Depois de alguma indecisão sobre o rumo a dar à parte agrícola da Quinta, decidi que seria essencialmente frutícola e submeti em 2017 um projecto ao PDR para co-financiamento da instalação de pomares de macieira, pereira e medronheiro. Os pomares de medronheiro seriam instalados em solos florestais, em áreas de eucaliptal anterior, e seriam uma tentativa de “exploração alternativa” ao eucalipto dos solos florestais.
Em 2017, contudo, acontecia um revés: um incêndio florestal ateado na zona de Vale de Barrocas na noite de 27 para 28 de Abril, mercê de uma noite de vento de leste mais própria do Verão, trouxe as chamas até Belazaima, e as áreas do Vale da Várzea e da Fonte do Porco, onde tinha trabalhado nos anteriores 12 anos, arderam quase por completo. Por ter acontecido muito cedo no ano, este incêndio teve a particularidade de ser destrutivo para as árvores mesmo em áreas já com pouco matagal, mas com uma das plantas que sucede ao matagal quando as condições do solo melhoram: o feto comum. As formações de feto comum são densas e altas e as plantas secam no Outono para voltarem a rebentar na Primavera seguinte. Em 28 de Abril os fetos do ano anterior ainda dominavam sobre os novos e, como estavam muito secos, alimentaram as chamas sob a copa de árvores ainda jovens, com consequências nefastas: uns 80 a 85% das árvores da Fonte do Porco e do Vale da Várzea perderam a parte aérea e tiveram de ser cortadas. Nos anos seguintes os rebentos foram seleccionados e as árvores recuperadas mas com muito trabalho e anos de atraso. Mas também houve consequências positivas: foi possível adquirir duas novas parcelas no Vale da Estrela, aumentando a área para além do terreno original do Vale da Várzea, aquisições que tornaram possível a instalação de uma área de medronhal num local muito mais vantajoso do que o que estava inicialmente previsto.
Em 2019 começou finalmente a instalação dos primeiros pomares: de macieira e pereira, nas Várzeas e no Pedregal e de medronheiro em vários locais.
Em 2020, novo revés: um acidente com uma pick-up quando tratava de assuntos florestais do Cabeço Santo com outra pessoa (que conduzia o veículo) deixou-me preso no hospital entre 23 de Janeiro e 11 de Fevereiro, com um “bónus” adicional de vários meses de baixa para recuperação: tinha fracturado uma vértebra cervical… Num momento em que a Quinta dava, no terreno, os primeiros passos, e em que as consequências do incêndio de 2017 ainda se faziam sentir, foi uma interrupção difícil, agravada ainda pelo incidente em que quase perdia um dedo, quando, ainda de baixa, dava instruções a uma equipa de profissionais sobre o funcionamento de um triturador de ramada… Mas, como já estava de baixa, de mais baixa não podia ficar… Com o tempo, tudo foi sendo superado.
Entre 2018 e 2023 consegui adicionar à Quinta novas áreas agrícolas na Benfeita e no Pedaço, áreas que permitiram, por alteração do projecto original de 2017, tornar a Quinta mais viável e interessante. Em 2021 a Quinta das Tílias vendia as primeiras maçãs! O projecto agrícola começava a dar frutos, não obstante as muitas dificuldades encontradas.
E porquê “Quinta das Tílias”? Numa resposta rápida: porque no jardim da casa há duas tílias, plantadas no Inverno de 2013, o primeiro que passámos na nova casa. Só por isso? Não, de facto há uma razão mais profunda, enraizada na história desta família, constituída por mim, pela minha esposa, Fernanda, e pela minha filha, Ana. Mas essa razão não a vou revelar. É, digamos assim, um segredo de família. Essas árvores guardam memórias íntimas, momentos difíceis a dois e depois a três. E representam a superação e transformação desses momentos. E serão memória viva da nossa passagem por esta Terra, mesmo quando nós já cá não estivermos.
